
PSDB, regressos e progressos
Lowan Rodrigues 04/05/2016
No âmbito federal, é fato que o PSDB mudou muito sua postura, desde sua fundação até os dias atuais. O partido que antes era caracterizado pela sua composição intelectual, que havia participado de importantes projetos como o Plano Real e o tripé-macroeconômico, que defendera ativamente a necessidade de responsabilidade com as contas públicas. Atualmente, especialmente no congresso, vem votando contra corte de gastos e/ou aumento de impostos, contribuindo para sufocar o ajuste fiscal, além de que suas críticas não estão indo muito além de ataques à campanha de Dilma Rousseff, a qual praticamente todos já consideram como mentirosa.

Tal postura não faz sentido algum, dado os princípios de fundação e o histórico recente do partido, exceto quando se considera a guerra que fora declarada ao PT. Aparentemente, a postura tucana vinha sendo esperar que o governo petista se afunde na própria lama e sujeira, sem se importar com os estragos que isso potencialmente pode causar à nação. O PSDB se tornou um opositor não ideológico, mas apenas político mesmo. Um arqui-inimigo essencial, criando a falsa impressão de um regime bi partidaristas.
O grande imprevisto para a alta cúpula do partido, talvez com a exceção do ex-presidente Fernando Henrique, foi que o partido de Lula seguiu a receita tucana à risca, adotando o tripé macroeconômico associado a programas sociais como se fossem de seu DNA. Assim, mesmo tendo um princípio em comum e aparentemente concordando com os meios e os fins, ambos partidos foram incapazes de formar uma aliança. Isso porque o PSDB se perdeu e se dividiu no egocentrismo de seus líderes, praticamente incapazes de não governar. Além do mais, as enfáticas críticas do Partido dos Trabalhadores à gestão de FHC contribuíram para o clima de rivalidade.
Irmandade e desavenças entre PT e PSDB.
Por mais que se odeiem, petistas e tucanos hão de admitir que possuem uma origem em comum. Ambos surgem, na época da ditadura, nos confins da USP e foram emergidos pela esquerda paulistana, o PT através dos sindicatos e o PSDB através do intercâmbio entre universidades.
Apesar das constantes brigas eleitoreiras no Estado de São Paulo, na esfera federal, os dois partidos tinham relações para lá de amistosas e consensuais. Uniram-se pelas Diretas-Já e pelo impeachment do presidente Collor, além de concordar nos discursos sobre a necessidade de ética na política, redução da desigualdade e da pobreza.
Não à toa, em 1993, as lideranças dos partidos iniciaram um processo de formação de aliança, incluindo também a ala mais progressista do PMDB. Porém, se hoje os partidos são inimigos mortais, já se sabe que alguma coisa deu errado. Após o impedimento de Collor, Itamar Franco assumiu a presidência, em 1992, e logo nomeou Fernando Henrique para o Ministério da Fazenda.
Com a proximidade não só física como também nos debates do planalto, Fernando Henrique passou a ser mais influenciado por Itamar, ou seja, o PSDB passa a ser cada vez mais próximo do presidente.
O ocorrido em 1993 fora que o PSDB aliou-se a Frente Liberal no bloco para o governo, partido de fundamental importância na elaboração do plano Real e tripé macroeconômico, além de muito influente nos processos de privatização. Tal situação fez com que o PT se sentisse traído pelo antigo aliado, além do mais era inviável que o partido apoiasse tais espécies de medida. Com isso, o antigo amigo próximo, Lula, acaba por tornar-se um dos maiores críticos e mobilizadores da oposição ao governo de FHC.
Em suas origens, o PSDB não era um partido com composição liberal, era uma esquerda muito menos radical que a petista, mas não deixava de atuar numa posição de centro-esquerda. Até hoje, com exceção do Plano Real, os tucanos praticamente não defendem as medidas que executaram na década de 90, porém é comum o discurso de que tudo fora feito em prol do valor do Real.
Com o decorrer dos governos de FHC, o partido acaba incorporando novas e mudando algumas de suas antigas ideologias. Sendo um símbolo de responsabilidade com as contas públicas – mesmo que isso demande concessões, privatizações e políticas impopulares, em alguns casos –, mantendo o antigo valor intelectual de antes. Para dizer que o partido não abandonou seus valores de esquerda, é inegável que, nesses governos, inicia-se um ensaio das políticas macroeconômicas de redistribuição de renda, que serão maximizadas no governo Lula.
Lula, o filho do... Real?
O fim do governo de Fernando Henrique marcou uma determinada omissão do presidente no cenário político, talvez até mesmo por preciosismo próprio. Aparentemente, o ex-presidente praticamente não deu suporte algum para a eleição de José Serra, o sucessor de seu partido. Pelo contrário, botou fim no chamado “populismo cambial” – que causou ruins impactos a situação socioeconômica do país no curto prazo, o que dificultava o mantimento do partido no poder – e, até mesmo, ajudou Lula numa aproximação com o presidente americano da época, após o petista assumir.
A mudança de discurso, especialmente nas questões econômicas, de Lula entre as campanhas de 1997 e 2001 também foram bruscas. Tal postura só foi ainda mais corroborada com a divulgação da “Carta ao povo brasileiro”, comprometendo-se com o mercado e o resto do mundo de que governaria com cautela fiscal e monetária, além de honrar as obrigações financeiras. A promessa foi cumprida, aliás, em 2008, a Standard & Poors havia elevado o rating do Brasil. O Brasil de Lula foi, nas palavras do ex-presidente, “considerado um país sério por parte dos investidores estrangeiros”.
O PSDB fora dos governos Lula e Dilma.
Nesse falso bipartidarismo brasileiro, com o fim dos governos de Fernando Henrique, os maiores nomes tucanos tiveram de contatar-se como sendo o grande opositor do governo federal, mesmo que as medidas do governo Lula tenham sido as mais parecidas possíveis com os valores do partido e que, para se opor, tenham de ir contra as exigências de seu público eleitoral.
Contudo, o cenário realmente muda quando o governo federal muda sua postura macroeconômica, principalmente após 2012, com a inserção da Nova Matriz Econômica, aonde o PT vai gradualmente demonstrando uma postura populista, cada vez mais cedendo para pequenos grupos de interesse, abandonando a responsabilidade fiscal e o tripé-macroeconômico.
Atualmente, para a alegria dos tucanos e tristeza da nação, o PT está finalmente afundando em sua própria sujeira e isso é refletido no balanço do Tesouro Nacional, nos custos da indústria, nos índices de desemprego e na nossa estagflação econômica. Não à toa, finalmente alguém conseguiu trazer algum consenso ao partido, desde de 2013, Aécio Neves é a figura mais influente do PSDB.
Bom, o processo de impeachment da presidenta se encontra em evolução, tudo indica que ocorra de fato. Michel Temer, provável futuro presidente, disse que aceitaria as exigências do partido. Cabe agora descobrir se o partido sucumbirá novamente as disputas internas ou preparará o terreno para uma eventual volta ao poder em 2018, provavelmente com Aécio encabeçando a presidência.
Aproveitando a deixa, fica um breve comentário para a postura de Aécio Neves no Senado, ele aparenta ser um excelente articulador, porém fala pouco sobres seus ideais, geralmente, quando vem a público é para criticar a campanha e a gestão do segundo mandato de Dilma. Enfim, só o tempo irá expor o real posicionamento futuro do PSDB, que dificilmente deixará de digladiar com o PT.