
A Petrobras pós aditado da balança
Lowan Rodrigues 22/04/2015
Para a Petrobras e seus investidores, 2014 fora um ano muito movimentado. A proximidade com o Estado faz com que a companhia seja ainda mais influenciada pelas movimentações sociais. Copa do Mundo, baixo crescimento, constantes greves e manifestações, eleições acirradíssimas, casos de corrupção, alta do dólar, conturbações políticas são fatos que veem abalando a estrutura da multinacional nesses últimos meses. Não à toa, o relatório referente ao balanço do último trimestre do ano passado da empresa foi adiado duas vezes.

O Passado Recente
Tudo começa com a descoberta do pré-sal, ainda em 2008. Em tal cenário, onde o preço do barril petróleo não parava de subir, a demanda por commodities aparentava ser insaciável e a economia brasileira logo, logo apresentaria a sua maior taxa de crescimento dos últimos anos, já em 2010. A empresa não parava de se agigantar no cenário mundial. O petróleo ganhava cada vez mais importância na elaboração de estratégias do Governo, tudo indicava que a nação finalmente se tornaria autossuficiente em petróleo e uma nova forma de financiamento da dívida pública havia surgido. Petróleo, o mesmo recurso cujo a alta tanto prejudicou a economia brasileira no final do século, agora aparece, quase como mágica, como o ingrediente que faltava para a prosperidade e o tão sonhado título de "país do presente".
Todavia, como já se sabe, nem tudo se resume a prosperidade. Talvez, a grande mudança de cenário começa em 2011, quando a China passa a apresentar redução em seu crescimento econômico e a zona do euro dá sinais iniciais de uma crise. Dado o baixo crescimento da demanda internacional, o governo decide voltar seus olhares para dentro do país, principalmente, estimulando a demanda interna.
Em junho de 2012, com o objetivo de conter o aumento dos preços de combustíveis e controlar a inflação, através do CIDE (Contribuição de Intervenção no Domínio Econômico), o Governo Federal decide subsidiar a gasolina e o diesel, além de impedir graves crescimentos nos preços. Para fins de generalização, pode-se dizer que o preço estava sendo regulado e decidido pelo Estado, que insistia em mantê-lo baixo. Contudo, o crescimento da demanda interna por combustíveis acelerava cada vez mais, e muito disso, deve-se a diminuição do IPI (Imposto sobre Produtos Industrializados) de automóveis.
O grande crescimento na extração se relacionava, em sua maior parte, a extração de petróleo pesado, que é muito utilizado para se fazer asfalto e combustível para máquinas industriais, mas não gasolina e outros derivados nobres do petróleo. Ou seja, mesmo autossuficiente, a economia brasileira ainda importa petróleo leve. A Petrobras importava o "petróleo caro" e exportava o "barato". Além do mais, o preço internacional do barril de petróleo vinha em constante subida desde a segunda metade de 2008. Veja o gráfico abaixo, sobre a evolução do preço internacional do barril, segundo a The Canadian Press:
Até hoje, as reservas do pré-sal não são exploradas em sua capacidade máxima. A sua extração exige tecnologia de ponta, consumindo cada vez mais recursos da empresa.
Tendo de arcar com os investimentos no pré-sal e bancar a diferença entre o preço interno e externo do barril, não é de se surpreender que a Petrobrás se endividasse. Na gerência de Graça Foster, entre 2012 e 2014, o total de suas dívidas saltaram de R$ 164 bilhões para R$ 331 bilhões.
A produção na extração de petróleo, mesmo tendo muitas diversidades, veem batendo recordes. A Petrobras fechou 2014 batendo recordes. Em dezembro, ela produziu uma média de 700 mil barris por dia. Sendo que só no dia 21 do mesmo mês, ela extraiu 2,47 milhões de barris, isso sem contar a produção de suas parceiras.
Segundo uma reportagem da Folha, relação entre a dívida e o patrimônio da empresa foi de 31% em 2013 para 43% no final de 2014.
Uma mudança significativa no cenário para a Petrobras, foi, principalmente após a segunda metade de 2014, a ascensão da extração de petróleo a partir do xisto. Que força uma queda no preço internacional do petróleo. No curto prazo isso é excelente para a empresa nacional, afinal, como o preço interno está congelado, a empresa terá lucros e vantagens com a queda do petróleo leve internacional. Mas no longo prazo, como toda a indústria petrolífera, isso significará mais uma indústria concorrente.
Além dos problemas com as dívidas e as constantes intervenções estatais, os resultados das investigações da Operação Lava-Jato deixam as agências de risco, os investidores e os credores ainda mais receosos ao fazer negócios com a Petrobras. Afinal, o dinheiro está sendo usado para fins produtivos ou eleitorais?
O Início do Ano
A presidente Dilma acaba de se reeleger e ficou claro que mudanças na postura econômica eram necessárias para se retomar o otimismo com a economia brasileira. Ao que tudo indica, no que depender do governo federal, 2015 será um ano de reforma, mesmo que a economia brasileira entre em recessão.
A condenação e o seguir das conclusões das investigações da Lava-Jato, realmente, indicam, por parte do Estado, uma mudança de postura. As sansões feitas pela presidente no orçamento da receita federal de 2015 mostraram que, apesar do corte de gastos públicos, a receita destinada aos fundos partidários quase que triplicou, tendo seu total ampliado para R$ 868 milhões. Assim, mostrando que a Federação, pelo menos hoje, advoga por uma maior independência financeira dos partidos políticos com relação a empresas. Espera-se que isso mostre para os investidores, que o governo está mudando.
Outro fato importante, desse início de ano é que, com o objetivo de controlar a inflação americana e atrair mais capital, em março de 2015, o FED (Banco Central Americano) diz planejar aumentar a taxa básica de juros da economia ainda no meio do ano. O que resulta numa valorização generalizada do dólar. Resultando em más notícias para a Petrobras, afinal, a maior parte das dívidas da estatal são contabilizada em dólares.
Sai o balanço auditado
A PwC (PriceWaterhouveCoopers) que havia se recusado a conceder o aval nas duas ocasiões anteriores, aprova sem ressalvas o balanço.
O tão esperado balanço mostrou que o total da baixa contábil foi de R$ 50,8 bilhões, assim tendo um prejuízo de R$ 21,59 bilhões em 2014. Apenas com os casos de corrupção da operação Lava-Jato, a perda foi de mais de R$ 6,19 bilhões. As perdas relacionadas a impeirment, desvalorização das ações, foram de R$ 44,3 bilhões.
Consequências e expectativas
Em Fevereiro, a agência de risco de crédito Moody's rebaixou o rating da Petrobras em dois degraus, de Baa3 para Ba2, indo de investimento seguro para grau especulativo.
Com a divulgação da balança, muitos esperavam que a Moody's voltasse atrás no rebaixamento. Contudo, baseado nesses últimos dados apresentados, isto dificilmente ocorrerá.
Para a companhia, a transição de Baa3 para Ba2 significa maior dificuldade para se adquirir empréstimos e maiores juros, isto é, maiores dificuldades para refinanciar suas dívidas e atrair investidores.
Talvez, isso possa colocar a extração do pré-sal em risco, ou, no mínimo, adiá-la um pouco mais. Afinal, como já se sabe, "tempo é dinheiro". Contudo, quão antes, melhor. Ainda mais falando de combustíveis fósseis, uma forma de energia cada vez mais criticada e com mais concorrentes.