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Lemas e dilemas do Brasil

Erick Mancilla 04/06/2015

 

“Ordem e Progresso”, nunca fui muito fã desse lema estampado em nossa bandeira, considero-o muito ditatorial, mas tenho revisto seus significados. Desses termos talvez Ordem é o que mais me incomoda mas não seria ruim hoje em dia ter um pouco de ordem no nosso sistema político, seria bom não ter praticamente quatro presidentes, seria bom ter uma economia ordenada e respeitada, seria bom o Brasil ser novamente aquele país ativo no mundo, podendo manter sua engrenagem global sem ter que emprestar um pouco do óleo chinês.

A terra do samba hoje está mais para um solo de choro, as consequências da crise política são sentidas por nós em quase todas as esferas do cotidiano, desde o aumento dos preços, ao aumento dos desempregados, até crise no sistema estudantil. Agora, quais serão as consequências dessa crise no mundo? No mundo globalizado de hoje, com certeza não são positivas, e certamente são sentidas. É melhor já ir afinando a viola.

 

Comecemos pelos nossos vizinhos do Cone Sul. Primeiramente falemos da nossa mais próxima rival e aliada. A Argentina está numa crise econômica e política ainda mais grave que a nossa, e ao contrário do que algumas pessoas pensam, isso não é bom, até para as pessoas que pensam isso. O maior parceiro econômico do Brasil na América Latina, sendo muito dependente do país tupiniquim, principalmente na nossa Indústria. Com isso, parte da crise das fábricas automotivas pode ser explicado pela crise argentina, assim como parte da indústria têxtil e outras mais. Porém não foi o Brasil que deu um calote no Clube de Paris (clube de investimentos estrangeiro), não foi a Dilma que mandou matar um promotor argentino, então, qual é a nossa parcela de culpa na crise argentina? É o simples fato de não podermos ajudar. Nosso terceiro maior parceiro econômico que passa por uma grave crise, e o Brasil que teria, por enquanto, o poder de ajudar não pode por causa da crise política e econômica, como melhorando taxas de exportação, por meio de empréstimos diretos, e comprando títulos de dívida argentinos.

 

Não conseguir ajudar não quer dizer que o Brasil não o está tentando, Mauro Borges, ministro das relações exteriores, disse que estará ao lado da Argentina nas conversas da Organização dos Estados Americanos para tentar refinanciar a dívida argentina. É possível fazer um texto, talvez um livro, sobre como as relações Brasil-Argentina são próximas e quanto elas precisam melhorar, mas o tempo urge, falemos do Chile.

 

O Chile tem adquirido uma certa atenção do mundo ultimamente, é verdade que a projeção de crescimento do Chile tem caído, estacionado em 2,4%, na época em que escrevo, projeção que não passa na cabeça do mais otimista dos economistas brasileiros para esse ano, ou o ano depois. Mas o que chama atenção do Chile é seu movimento, ele tem estado à frente da formulação de vários tratados comerciais, principalmente com a China e com os países do Pacífico, além de ter um cenário político relativamente estável. Então como a crise brasileira afetou esse país, que parece estar crescendo com o que pode? Na verdade o Brasil não fez nada, e ai está o erro, o Brasil vem perdendo a zona de influência chilena para a China que já é o maior parceiro comercial do país desde 2005. E enquanto ao nosso pequeno e lindo Uruguai, sobra apenas a inveja, de ter como líder da esquerda, o carismático e humilde, Mujica enquanto nós tínhamos o Lula.

 

Falando em Lula, uma das suas maiores realizações foi um plano de parceria e colaboração que agiu principalmente na África, destinando investimentos a países em desenvolvimento, como Angola, África do Sul entre outros. É conhecido como cooperação Sul-Sul já que responde aos países do hemisfério sul. O ex-presidente visitou o continente africano 12 vezes e visitou 29 países diferentes, criando parcerias bilaterais comerciais e culturais. Inclusive instituto Lula, uma ONG focada somente nesse assunto, também fora criada com esse intuito. Mas infelizmente, desde o primeiro mandato da presidente Dilma, ela tem se mostrado pouco interessada em continuar o progresso do presidente Lula nessa questão, agora no segundo mandato, as parcerias sul-sul pertencem a um álbum de fotos antigas. Pode-se dizer que foi culpa da nossa crise econômica, ou da falta de tato da presidente para assuntos internacionais, ou os dois motivos, ou nenhum. Fato é que, para variar, a China tem tomado esse lugar como grande parceiro comercial dos países africanos, mesmo não tendo nenhuma ligação cultural com eles, como nós temos.

 

A situação dos BRICS não está muito boa. A Rússia enfrenta um cenário de constante baixa nos preços do petróleo e a imposição de algumas sanções econômicas da União Europeia, uma isolação política de antigos de parceiros comerciais, e conflitos no sudoeste do país. A África do Sul enfrenta uma crise econômica pela baixa dos preços das commodities e vê seu continente (e seus parceiros comerciais) sofrerem guerras civis, conflitos com terroristas e miséria. Por fim, o governo brasileiro enfrenta uma recessão fruto de um plano econômico falho, além de ter de enfrentar Eduardo Cunha, Renan Calheiro e Michel Temer. Os países que estão se saindo melhor são a Índia e a China. As palavras crise e China se repetem neste texto, e não é por acaso. O Brasil enfraqueceu-se, sem poder político ou econômico não há país que não se deixe levar pelo marasmo da baixa influencia. No mundo hoje quase não há vácuos de poder, como uma lei da física, uma força de influência sempre será sobreposta por outra de igual ou maior intensidade. O Brasil não é o único país que está perdendo influência e força para a China, praticamente todos os países estão. O mundo vai sobreviver sem o poder político do Brasil, sempre sobreviveu, mas o Brasil pode sobreviver sem o poder político do mundo?

 

© Releitura 2015. Orgulhosamente criado com Wix.com

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